A necessidade de uma Psicologia Social
Não espere uma longa análise crítica e social a respeito do tema.
Minha proposta é, de forma bem sucinta, destacar a importância de uma atuação psicológica social em detrimento de permear os mecanismos de dominação que agravam o sofrimento da classe que move as forças produtivas: a trabalhadora.
Ao longo dos cinco semestres que vivi dentro do curso de Psicologia fui apresentado a uma quantidade substancial de material acadêmico, como livros, artigos, revistas e afins. A base teórica do curso é robusta, afinal, são três longos anos de estudo antes de ter contato com seu primeiro paciente, lá no 7º semestre. Muito me agrada esse caminho, pavimentado pela leitura crítica dos conteúdos propostos pelas disciplinas.
Ao decorrer dos semestres, o estudante deve desenvolver habilidades críticas de análise da realidade, assim como conhecimentos técnicos e práticos. A importância social da atuação psicológica não é vista somente uma vez, mas várias e várias vezes durante os primeiros semestres.
A enfase tem um objetivo claro: o estudante deve chegar nos semestres finais consciente da importância de uma atuação séria, ética e embasada no sólido terreno da teoria científica e social, afinal, assim que formados, estaremos lidando com vidas.
O foco da Psicologia, sem margem para negociação, deve ser o desenvolvimento do senso crítico no sujeito, a emancipação e a conscientização do sujeito acerca do próprio sofrimento. Em termos simplórios, o sofrimento que eclode como crises de ansiedade, depressão, burnout e tantos outros males que assolam a sociedade não pode ser desvinculado a forma econômica-política que permeia esta mesma sociedade.
Não existe indivíduo isolado no tempo e no espaço.
Um trabalhador obrigado a dormir pouco, se alimentar mal, passar horas no transporte público para, no final do mês, receber um valor ínfimo perto daquilo que produziu é terreno fértil para o sofrimento que eclodirá das mais diversas formas.
O sociólogo Jessé Souza elabora mais nessa direção, levantando a tese da humilhação que permeia o cotidiano desses trabalhadores. Humilhação esta que, em termos psicanalíticos, é deslocada para outros objetos/sujeitos que não são seus reais causadores.
A Psicologia não pode ser apropriada (leia “deturpada”) para atender a fins neoliberais, como ferramenta para legitimar, de forma cruel e desumana, a exploração cada vez mais brutal da força de trabalho.
Se a sua Psicologia não é social, o que ela é?
A que fins ela se destina?
Se ela não favorece a emancipação do trabalhador, a quem favorece?
Psicologia sem consciência social e luta de classes é coaching.